sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Cronicando...Voz aos Alunos

 

     Que opinião têm os outros sobre mim? Esta é a questão que, não raras vezes, colocamos a nós mesmos… Na verdade, a pergunta essencial é: eu permito-me ser quem sou? Eu preocupo-me com o que EU penso sobre mim?

    A sociedade é insaciável a estabelecer caixinhas onde temos de nos formatar. É uma rotulagem que nunca mais acaba. E nós silenciamos a nossa voz, optando pelo silêncio, para não entrar em conflitos nestes tempos de censuras não declaradas. Não sabemos, provavelmente, que, com essa automordaça, “compramos” uma guerra dentro de nós. E estamos em paz com todos, mas de mal connosco.
     Que ousadia é a dos outros para me dizerem que eu tenho de ser assim ou assado? Que desfaçatez a de tirar conclusões precipitadas sobre quem sou se nem eu mesma sei. Há tantos “eus” dentro de mim! E nenhum existe para agradar. Não se sustenta a personagem do agrado a gregos e troianos por muito tempo. É cansativo, pesado, é todo um trabalho de representação teatral e dramática não remunerado. Não estou para isso. Fingir sempre também cansa! Então, se alguém me quer criticar destrutivamente, pode pôr a sua opinião não pedida num cálice e entregar-mo, mas recusar-me-ei a beber esse veneno. Afastem de mim esse cálice. Devolvo à procedência. Talvez o veneno não seja peçonhento para quem o gera. Ou talvez seja…

Beatriz Cruz, 9ºE

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

O Teatro vem à Escola: Auto da Barca do Inferno

 


       No passado dia 13, não houve azar...muito pelo contrário: tivemos a sorte de ter uma companhia de teatro, com um elenco fantástico e claramente constituído por pessoas com formação teatral, a representar para nós O Auto da Barca do Inferno, aqui mesmo, no Auditório Escolar da Escultor António Fernandes de sá.
      Da escolha da indumentária, aos elementos cénicos e adereços, tudo se moldou para um resultado teatral muito apelativo, harmonizando-se representação, música, artes visuais e performativas da melhor maneira.
                                         O Frade
    Consideramos excecional a capacidade de apenas cinco atores proporcionarem uma representação de uma peça com tantos personagens, tendo ainda recrutado uma figurante do público (involuntária, mas bem sucedida)...aliás, a interação com o público foi uma constante!
  
                                              Os Quatro Cavaleiros (Cruzados)


       Este Auto caracteriza-se pela forte componente humorística e o elenco conseguiu arrancar umas boas gargalhadas do público, mantendo-se fiel ao recursos a cómico de situação (por exemplo, o "local" onde o Judeu vai buscar as moedas para tentar subornar o Diabo), o cómico de linguagem (destacamos a cena do Sapateiro, com a sua linguagem repleta de calão) e o cómico de caráter (veja-se o cena do Parvo)... Houve mesmo cenas que, não parecendo muito cómicas à partida (como a do Enforcado), foram coloridas com humor, pois uma atriz falava, mas era um outro ator a gesticular.

         Foi também digna de nota a originalidade de, no cenário (sendo uma peça de Ato Único) haver apenas uma Barca (que funcionava, concomitantemente, como Barca do Inferno e da Glória), operando-se apenas a alteração de uma colcha (e tons de branco e azul para simbolizar a barca do Céu/paraíso) e uma manta de retalhos em cores vivas (vermelho, laranja, magenta escuro....para simbolizar a Infernal embarcação).

      Assim, o "ridendo castigat mores" ficou bem assinalado, pois, a rir, castigaram-se os maus costumes/comportamentos (os de outrora que, infelizmente, vigoram ainda)...e o humor é uma incrível ferramenta de crítica. 

        Após a atuação, ainda houve tempo para troca de impressões com os atores, satisfação de curiosidades, elucidações sobre o processo cénico e técnicas de memorização, respostas à nossa sede de como se geram estas fontes do nosso encantamento.

         Aqui queremos deixar também o nosso agradecimento ao Departamento de Línguas e, em particular, à professora Isabel Maia, por todo o trabalho desenvolvido ( m outro tipo de "trabalho de bastidores" que, não tendo a visibilidade da representação, sem o mesmo, esta não aconteceria perante os nosso olhos)
                                                                                                             Turma do 9ºC


sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Citação para Reflexão

     "As escolas que decidiram afastar os telemóveis para terem lá dentro crianças e adolescentes livres são pequenas bolhas de Humanidade que devemos preservar com todo o Amor.

         Estão a tentar o que (não) lhes compete: que os filhos de outros pais ainda consigam ir a tempo de olhar para o que os rodeia, aqui e agora; e que se espantem com o tanto que têm a ganhar."

                                                                                 Bruno Nogueira, Dores Crónicas

     

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

ACOLHIMENTO A ALUNOS MIGRANTES - DESAFIO

    Na sociedade, felizmente multicultural, em que vivemos, é muito enriquecedor entrar em contacto com outras culturas, línguas, tradições e costumes...

    Por certo, conheces alguém de outras proveniências que não a tua. A Biblioteca Escolar lança o desafio de pedires, com a devida autorização documentada (tal como aqui foi feito), com a assinatura da autorização de uso e difusão de imagem, a gravação de um vídeo de boas-vindas à Biblioteca Escolar, em Português e numa outra língua (a nativa do respetivo falante). O objetivo é conseguir o maior número de línguas possível num vídeo de acolhimento, inclusão e informação acerca do que a Biblioteca tem para proporcionar.

    Na Biblioteca Escolar, somos todos uma grande família!


terça-feira, 10 de dezembro de 2024

CHOCOLATE E FEIJÕES

Chocolate e feijões?! 

Sim...e com pessoas de pernas para o ar pelo meio! Como é isso possível?

Damos-te uma pista (ao teu dispor, na Biblioteca Escolar): 












Sugestão de Leitura...(sem imposições ou obrigações)

      Não és obrigado a ler. Não és. Tenta, se quiseres...e, se te sentes perdido na infinitude de livros, deixo aqui uma sugestão. Ah, e um excerto de alguém que pensa como eu. E, provavelmente, como tu... Vê se te identificas. Há Dores Crónicas que a leitura cura. Isto nem são 10 Minutos a Ler. É a semente de  meia dúzia de minutos que talvez floresçam num livro inteiro... 



     «Quem ainda não descobriu a alegria de ler é porque ainda não sabe a alegria que o espera. Ler é um prazer que se vai conseguindo aos poucos, não aparece de um dia para o outro. Quando somos novos é tudo insuportável, são tantas letras juntas, tantas frases, tantas páginas, que a ideia de começar um livro é um tormento. Não se quer começar, porque se sabe que vai demorar até acabar. Quer-se rápido e fácil, e que não agite muito o que vai cá dentro. 
        Na escola obrigam-nos a ler o que ainda não queremos nem sabemos; autores que precisam de tempo para serem lidos com o amor e a atenção que eles merecem. É assim que muitas vezes se afasta um leitor de um escritor: obrigando-o a ler o que só deve ser lido por vontade própria. Obrigar uma criança a ler é instigá-la a ganhar aversão à leitura. Ler tem de ser um impulso que nos toma de assalto, como dar um mergulho no mar. Se nos atiram de repente para dentro de água, só queremos sair e ir a correr para a toalha. Houve uma altura em que insistia com as minhas filhas para lerem, porque não aguentava que elas não descobrissem o que me fazia tão feliz. De tanto querer que lessem, elas lá se rendiam e e liam por mim. Mas transformar o meu prazer na obrigação de outros resolve o meu problema, mas cria um neles. 

            Hoje em dia ofereço-lhes livros, e depois espero que um dia olhem para eles com a curiosidade delas...»

Bruno Nogueira

        Os livros da Biblioteca Escolar também estão à espera da tua curiosidade...

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

ARMÁRIO DOS AUTORES...desafio de leitura


      Fazer uma biografia de um escritor/uma escritora não é difícil. Está lá na net, certo, e depois...quem nunca fez Copy-Paste que atire a primeira pedra.💁

      No entanto, será que se assimila a informação desejada?


    Para garantir que dados tão importantes como a data de nascimento, o local, as obras escritas e os prémios conquistados (entre outras informações) ficariam mesma registados (e a memória lá os irá alojar numa das suas "caixinhas"), a Professora Elvira Sousa sugeriu aos alunos do 6ºA e do 6ºD e elaboração de biografias...sendo escolhidos os autores preferidos! Foi uma iniciativa muito bem pensada e muito bem sucedida!


      A Biblioteca Escolar também te lança o desafio de vires até aos "Armários dos Autores" apreciar, ler, assimilar informação sobre os autores destacados...

      E temos um desafio para ti...que passa pela memória, pela atenção, pela concentração! Em que consiste?

     Isso é um segredo que terás mesmo de vir à Biblioteca para descobrir! E como é um desafio-concurso, habilitas-te a ganhar prémios! Estás à espera de quê?!







quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Integrar a Jogar...Xadrez

 


     Gostas de jogar Xadrez? Gostarias de aprender? Na Biblioteca Escolar podes aprender, melhorar as competências que já possuis, participar em Torneios...
        Os alunos Vansh Kaler, do 9ºB, João Carlos Macedo, do 9ºE e Maria Eduarda Silva, do 6ºC já integram este grupo, sob a supervisão da Professora Bibliotecária e com o auxílio de um ex-aluno e campeão ibérico de xadrez, Pedro Vieira.
     Se quiseres também fazer parte do grupo de enxadristas, dirige-te à Biblioteca Escolar e dá o teu nome. Sempre que houver iniciativas relacionadas com a modalidade, partilharemos contigo a informação! Sê muito bem-vindo!


sexta-feira, 29 de novembro de 2024

CAMÕES...PARA QUEM BASTAVA AMOR SOMENTE

 

Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente


Erros meus, má Fortuna, Amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a Fortuna sobejaram,
Que para mim bastava Amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que já as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa a que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De Amor não vi senão breves enganos.
Oh! Quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

Luís Vaz de Camões,

OFICINA DE ESCRITA CRIATIVA



 Queres vir treinar os teus dotes de criador de histórias?


Na Biblioteca Escolar, tens, ao teu dispor, um jogo para desenvolveres as tuas capacidades de escrita de narrativas...mas damos-te as "pistas", ou seja, as sequências da narrativa:



A partir de uma frase, como, por exemplo:

DEVEMOS SEMPRE SUPERAR OS NOSSOS MEDOS

és convidado a criar um conto seguindo cinco etapas e selecionando cartas com imagens:




Aceitas o desafio? Aprende a jogar e a contar na Biblioteca Escolar. Há prémios para  os melhores contos!







quinta-feira, 28 de novembro de 2024

LITERACIA FINANCEIRA

        Literacia Financeira e a Educação para o Consumo permitem aos jovens a aquisição e desenvolvimento de conhecimentos e capacidades fundamentais para as decisões que, no presente e no futuro, tenham que tomar sobre as suas finanças pessoais, habilitando-os como consumidores, e concretamente como consumidores de produtos e serviços financeiros, a lidar com a crescente complexidade dos contextos e instrumentos financeiros. 

           Numa perspetiva mais abrangente pretende-se disponibilizar informação que sustente opções individuais de escolha mais criteriosas, contribuindo para comportamentos solidários e responsáveis do aluno enquanto consumidor, no contexto do sistema socioeconómico e cultural onde se articulam os direitos do indivíduo e as suas responsabilidades face ao desenvolvimento sustentável e ao bem comum.

                Aqui ficam alguns links para acesso a informação relevante sobre o tema:










segunda-feira, 25 de novembro de 2024

10 Mandamentos das Boas Poupanças


 

AUTO DOS CONSUMIDORES CONSUMIDOS

                                                                         


                                                                          ATO I

Cena I

(cais de embarque; Anjo, Diabo e ajudante deste último em cena)

 

Diabo (atarefado) – Vamos lá, meu ajudante!

                               Guarda tudo no porão

                               Prevejo muito ocupante

                               E o vento está de feição

                               Hoje vamos receber

                               Gente muito consumista

      Companheiro     - Mas irá a barca encher?                     

                 Diabo     - Vou dar-te já uma pista…

                                Olha bem em teu redor

                                O que vês? Consumidores!

 Por isso aprende de cor:

 Seremos seus malfeitores!

Companheiro      - No Inferno, não há consumo?

            Diabo     - Nem com sumo, nem sem sumo!

                            Serão eles consumidos

  Pelas labaredas, em fumo…

  Mas diz-me, quem aí vem?

(ouve-se a música “Money, Money, Money” dos Abba)

Cena II

(entram em cena as consumistas, carregadas de sacas)

 

        Companheiro    - É a Lili Sem Vintém!

                   Diabo    - E traz suas irmãzinhas

Aquelas só estavam bem

Quando andavam às comprinhas!

Lili - Boa tarde, vós quem sois?

Diabo – O diabo, ao seu dispor!

    Lili – Ah!...O diabo, pois, pois

(olha-o de alto a baixo)

         - Fica-vos mal essa cor!

       E essa barca, para onde vai?

                       Diabo – P’ró Shopping do Bom Sucesso!

                         Lili   - Leva-me nela, te peço….

                       Diabo – Venham todas, aqui entrai.

                       Cátia   - Temos de atravessar o rio?

                       Diabo – Um desvio nós faremos!...

                     Isabel  - (Aparte) Ai, que eu neste não me fio…

                        Diabo – Vamos p’rá Terra dos Demos

                           Lili  - Cruzes, não quero eu ir para lá

                                    Nem uma montra, uma lojita…

                      Diabo   - Vamo’embora e pouca fita!       

 (dirigem-se à barca do Anjo)

                         Lili  - O Anjo me ouvirá!

                                   Ó meu Anjo, queridinho!

                         Anjo – Que desejais?

Lili    – Deixa-me ir para o Céu!

                         Anjo – Vós estais bem? Como ousais?

                                     Gastavas todo o dinheiro

                                     Em compras, sem piedade,

 Dizendo ao teu companheiro

 Que era para a caridade!

 

(as três dirigem-se de novo à barca do Diabo)

 

        Lili – P’ró Inferno, tem de ser!...

                Isto é de perder o tino.

                Vou p’rás fogueiras arder

                Mas com um top Valentino!

Cena III

(vão para a barca do Diabo; entretanto, ouve-se um cântico gregoriano e entra um monge)

         Monge – Esta barca…vai para o Céu?

         Diabo (anuindo) -Vai para o seu… destino

         Monge – Mas o vosso não é o meu.

         Diabo – Eu com este não atino!...

         Monge –(para o público) Como vós, sou pecador

                      Perfeito, só mesmo Deus!

                      Mas rogo a Nosso Senhor

                      Que me honre com os Céus!

        

         Diabo (irritado) – Se é p’r’essa conversação

                      “Deus”, Nosso Senhor”, os “Céus”…

                      Ide àquela embarcação

                      Eu fico cá com os meus!...

        Monge – Tu também já foste um Anjo!

                      Tua vida não foi sempre esta…

                      Diz-me então: por que caíste?

        Diabo (trocista)- Devido ao peso na testa!

        Monge – Jesus! Que Deus te perdoe!

        Diabo – Ó homem, vá! Eu até ajudo!...

       Monge(para o público)-Que a todos Deus abençoe!

                     

(dirige-se para a barca do Anjo)

 

Monge – Dizei-me, Anjo de Deus

              Ireis vós para o Paraíso?

Anjo    - Meus domínios são os teus

              A ti devo meu sorriso

              Sempre em pobreza andaste     

                             Comias o que colhias

                             Colhe hoje o que semeaste:

Uma vida de humildade

Sem luxos, sem devaneios

No céu, é mesmo verdade:

Os últimos são os primeiros.

 

(entra na barca do Anjo)

Cena IV

 (chega um agente publicitário, especialista em publicidade enganosa; vem acompanhado: uma bela jovem de nome Giselle; ouve-se, como música de fundo, “Eu Gosto É do Verão” dos Fúria do Açúcar)

Agente – Ó da barca, quem está aí?

  Diabo – Agente publicitário!

Como vão os reclames?          

Sempre a enganar o otário…

Agente – O que importa é vender!

              Se compram gato por lebre

              Não sou eu quem vai perder…

Diabo    - E essa Moça, quem é ela?

Agente  - Uma amiga especial…

Diabo    - E onde arranjaste tal bem?

Agente  - Nas promoções de Natal!

Diabo    - É assim mesmo, pois, pois…

Agente  - O meu lema sempre foi:

               Leve um e pague dois!

               Com o dinheiro que ganhava

               A ambos eu sustentava…

Giselle -  Calmex! Não foi bem assim:

               Eu garanti meu sustento;

                 Sou modelo; e este,sem mim,

                 Comia pão bolorento!

                 Realmente fiz campanhas

                 P’rás promoções de Natal

                  Mas não fui nas suas manhas!

                  Foi tudo profissional….

(virando se para o agente publicitário)

                   Mentes com todos os dentes!

                   Mesmo ao próprio Belzebu!

                    Pois fica agora sabendo:

                    a mim, não me enganas tu!

                    Se te pões p´raí a armar

                    Dou-te um pontapé no….

    Diabo: (interrompe) Ora vamos a acalmar!

                    No Inferno terão tempo

                    Para as contas ajustar…     

   

    (virando-se para o agente)

Diabo     - Vá entra, lá no Inferno

               Há muito a quem enganar

Agente   - Oh! Eu não quero estorvar            

Diabo      - Não estorvas nada, então?

                Em vida, a enganar o povo

                Agora: p’ró caldeirão!             

                         Vais dar um ótimo prato

                          É só seguir o contrato…

        Agente     - O quê? Que contas as minhas…

        Diabo        - Amigo: tu é que não leste

                          Estava em letras pequeninas.

 

Cena V

 

(entra o Agente na barca do inferno; ouve-se, de seguida, um excerto de “A Vida É Feita de Pequenos Nadas” de Sérgio Godinho                        e entra o Vendedor de banha da cobra acompanhado pelo seu ajudante, a carregar produtos inúteis)

 

Vendedor (fala rapidamente) – Muito boa noite,

                 senhoras e senhores

                 Não estou aqui para enganar ninguém

                 Estou aqui apenas

                 para fazer o meu negócio…

                  Diabo(aparte)     - Onde este está não há ócio…

                                              Então, tens banha da cobra?                               Vendedor    - De cobras e de lagartos                              

                        De répteis novos e velhos…

         Diabo      - Lagartos? Não gosto muito…

                          Sou pelos Diabos Vermelhos

      Vendedor    - E então, que queres levar?

                                      Diabo   - Quero levar-te a ti!

                                                     Ora toca  d’embarcar        

                                 Vendedor   - Mas ainda nada vendi.

                                                   Vou ao Anjo apregoar…

 

                                      (dirige-se à barca do Anjo)

 

                                 Vendedor   - Senhor Anjo, ouça-me bem:

                                                   Se comprar não faz asneira: 

                                                   Tenho CD’s do Saul

                                                   Do Toy, do Tony Carreira,

                                                   E latas de Redbull

                                                    Fica com sobressalentes

                                                   Se estragar uma asa…  

          Anjo (interrompe-o)         - Não entras na minha casa!


(   dirige-se de novo à barca do Inferno)   

                    Diabo         - Faz como manda o barqueiro

                                        No Inferno, ao chegar

                                     Comprar-te-ei um isqueiro…

 

Cena VI

 

(O vendedor entra na barca do inferno; ouve-se o som de um órgão de tubos; vem um Cardeal)

 

               Diabo – Sejais bem-vindo, Eminência!

                           É uma honra, Cardeal…

            Cardeal – Pois aqui sinto-me mal

                           Que raio de barca é esta?

               Diabo – Esta é a barca infernal.

            Cardeal – Não sou peixe dessa pesca.

                           Eu sempre imitei  Cristo.

Diabo (mexendo-lhe nas vestes) – Ele não usava disto.

     E diz-me cá, ó bacano…

     Era pertença de Cristo

                                   O espólio do Vaticano?

                                      Penso que andava descalço.

                                      Ou com sandálias de tiras.

Cardeal - Tu é que já desatinas.

            A um só Deus adorei!

Diabo – É verdade. Eu bem sei!

            Adoravas o dinheiro…

             Cardeal – Calai-vos, demo barqueiro

                            E chegai-vos para lá…

               Diabo – Não era Buda ou Alá,

                           Nem Maomé, Jeová

                           Era só o dinheirinho…

            Cardeal – Deves estar mas é parvinho.

               Diabo – Parvo, eu?! Troças de mim?

             Cardeal – Por acaso sabes latim?

               Diabo – Ah pois sei, ó: embarcati!

            Cardeal – Só ando de Maserati…

               Diabo – Este aqui é mesmo ignóbil…

                      - Achava que ia pró inferno

                        A acenar no papamóbil…

(O Diabo empurra o cardeal para dentro da barca)


Cena V 

 (O cardeal entra para a barca do Inferno; ouve-se “Toca O Telefone a Toda a Hora”, de Maria José Valério; entra um operador de call center)

 

  Operador    - Boa noite, desculpe incomodar.

      Precisa de dinheiro,

     de graveto, de pilim?

   Diabo         - Este tem já que embarcar!

                                 Operador   - Há aí lugar para mim?

Sou da empresa Credifixe

Eu não minto, não perjuro

Emprestámos o dinheiro

A 100% de juro!

                                      Diabo    - E o mauzinho sou eu??

                                Operador    -  Pode pagar mais depressa

                                                     Ou pagar mais devagar…

                                                     É certo que paga o dobro

                                                    Mas só queremos ajudar…

                                      Diabo    - Com essa lábia enganosa

                                                     Nem eu te quero levar…

                                                       Mas toca lá d’embarcar!

 

 

   (canção Eu gosto é do verão – Fúria do Açúcar)

Surfista – Oi pessoal, nem sei por que estou aqui

        Veio uma onda gigante e os sentidos perdi

        Sabem se por aqui perto,

        Há uma loja de desporto?

        Se houver vou já visitar

        Na terra eu era fanático

                                  Só queria era comprar

                                  Era o fato, era a prancha

                                  Enfim, o equipamento (é interrompido)

 

Diabo – Ora aguarda só um momento

            Quanto dinheiro gastaste

            Para o surf praticar?

 

Surfista - Sei lá, eu perdi a conta

                  Era o meu pai a pagar!

 

Diabo – A viagem é de graça

            Vamos já a embarcar…

            No inferno tens fogueiras

            (Mas não são para surfar…)

 

                          Surfista -  Que pena, um fato tão caro

                                          E vai ser para queimar!

 

                                      Todos    - Este Auto, com certeza

Que tem lição de moral:

Para não entrar em demência

Não gaste com imprudência

Não faça a si próprio mal!

O Inferno não existe

Mas gastar mais do que tem

É m