Recomendação de leitura n.º 5
“Sanderson & a Escola de Oundle”
Agostinho da Silva
“Toda a tentativa de
reforma é inútil para quem põe como um dogma que os homens são naturalmente
maus e que a luta pela vida é uma lei inelutável.”
Pag. 23 de “Sanderson…”
Resolvemos continuar com mais
um livro de Agostinho da Silva que a nossa biblioteca escolar possui:
“Sanderson e a Escola de Oundle” dedicado desta vez, plenamente, à temática da
Educação.
Partindo de uma breve
biografia da personagem de Sanderson, um inglês nascido em 1857 e destinado,
por nascimento e condição social, para estudos relativamente limitados,
Agostinho da Silva traça, em linhas muito diretas, os momentos-chave da sua
formação. Homem de grandes e múltiplas qualidades, nelas figurava a sua enorme
obstinação em conseguir aquilo que consignava como objetivo. Dessa forma soube
agarrar uma oportunidade para dirigir a Escola de Oundle, algo que muitos
membros da comunidade não consideravam ser apropriado para ele.
Desde o início do seu mandato
e sem olhar a meios, - cortando a direito como alguns dizem – Sanderson foi
primeiro impondo, depois conquistando e convencendo todos os membros da
comunidade escolar. Ao longo dos anos em que se manteve na escola e que se alargaram
por três décadas, o número de alunos foi aumentando, passando de apenas uma
centena para cerca de seiscentos.
Os seus métodos, os conteúdos,
disciplinas e formas de trabalho utilizados enquadravam-se naquilo que
posteriormente se veio a chamar de Escola Nova. Nos últimos capítulos do livro,
Agostinho da Silva, de uma forma que lhe é muito própria e já evidenciada
noutros dos seus livros, discorre acerca daquilo que descreve ou explica,
usando os seus próprios conceitos e visões. É assim que acontece,
principalmente nos dois últimos capítulos – o 6 e o 7 – que, além do mais,
apresentam uma atualidade surpreendente e uma magnífica clarividência,
conseguindo fazer dialogar uma obra escrita em 1940 com as problemáticas das
duas décadas posteriores ao ano 2000, com vantagem da primeira em muitos dos
aspetos abordados. Este livro é, sem margem para dúvidas, um poderoso indutor
de novas ideias sobre a pedagogia e a organização das escolas. Por isso,
recomendar a sua leitura é uma obrigação para quem o tiver lido.
Terminamos esta breve resenha
com alguns comentários seguidos de uma pergunta:
Como sabemos houve e há no
presente muitas escolas que se reivindicam de ideários ligados à Pedagogia ou
Escola Nova. Relacionado com Portugal, um dos nomes cimeiros desta pedagogia,
com obra escrita e seguida em escolas reais, mas na Bélgica e não em Portugal,
foi o pedagogo Faria de Vasconcelos. Mais atualmente, a Escola da Ponte tem
sido muito saudada como projeto real e de sucesso de Escola Nova e o seu
mentor, o professor José Pacheco, após a sua aposentação em Portugal tem andado
sobretudo no Brasil a espalhar as suas ideias e práticas.
As escolas que se se podem
identificar como Escolas Novas – onde a Escola Moderna de Freinet, em França,
se pode também enquadrar – têm sido alvo de muitos elogios, mas também de
alguns reparos críticos. Neste último campo podemos apontar vários artigos e um
livro do francês Georges Snyders – “Pedagogia progressista” e não só – que
analisa comparativamente a Escola Tradicional e a Escola Nova. E a crítica,
como todos sabemos, desde que bem fundamentada é sempre bem-vinda e promotora
de melhorias a vários níveis.
A pergunta é esta: porque é
que estas escolas, tão bem consideradas e elogiadas, e além dessa reputação,
com tantos motivos para serem seguidas pelos valores e qualidades que,
definitivamente, possuem, não constituem a maioria das escolas no mundo e, pelo
contrário, são extremamente minoritárias? E dizemos desde já que as respostas
que pretendemos não são aquelas que se satisfaçam com possíveis desânimos, mas
sim as que se interrogam e promovem os caminhos do futuro na educação.
Henrique Santos