Hoje, pelo menos hoje,
Lê um poema!
Vá...
Nem tens de sair da cama!
Não te vão cair os olhos,
Nem os parentes na lama.
Fica aqui um de incentivo
Para quando quiseres ler
(e, em segredo, te digo:
acabaste de o fazer).
Sílvia Pinto
PASSAGEM
Com que palavras ou que lábios
é possível estar assim tão perto do fogo,
e tão perto de cada dia, das horas tumultuosas e das serenas,
tão sem peso por cima do pensamento?
Pode bem acontecer que exista tudo e isto também,
e não só uma voz de ninguém.
Onde, porém? Em que lugares reais,
tão perto que as palavras são de mais?
Agora que os deuses partiram,
e estamos, se possível, ainda mais sós,
sem forma e vazios, inocentes de nós,
como diremos ainda margens e como diremos rios?
Manuel António Pina | Todas as Palavras