terça-feira, 8 de março de 2022

MULHER-MÃE-AMOR ACIMA DE TUDO

 


                                              A minha mãe é uma pessoa sensível

Que come galinhas

E que mata galinhas!

 

A minha mãe sempre foi uma pessoa sensível

Tao sensível

Que ficava feliz por haver, por vezes, uma galinha para comer.

A minha mãe não escrevia poemas

(isto de se ser analfabeto tem os seus constrangimentos)

Mas tinha poesia no olhar!

 

A minha mãe não discorria sobre a praia, nem sobre o mar

Mas conhecia bem os campos

As leiras

As colheitas

A impiedade do tempo, a rudeza dos homens, os caprichos do chão…

 

Quando morrer, não vai para o Penteão

(não é sítio para quem está preso à lei da morte)

E, no entanto, fez feitos valorosos

Deu de comer a cães famintos

E, sendo pobre, partilhou com os miseráveis,

E lutou para que a morte não a levasse de vencida

E (por muito que isto nada interesse às elites)

A minha mãe sensível…deu-me a vida!

A Professora Bibliotecária,

Sílvia Pinto