Recomendação de leitura n.º 7
“Diário
de Alcestes”
Agostinho
da Silva
“Toda a salvação tem uma cruz; e quanto mais pesada for a
cruz,
tanto mais valiosa será a salvação.”
In “Diário…”
Hoje voltamos a trazer-vos a
figura de Agostinho da Silva, com um livro de certa forma bastante diferente
dos recomendados em semanas anteriores.
Enquanto que “Sete cartas a um
jovem filósofo” pretendia apresentar uma clareza meridiana, embora não
simplista, e “Sanderson e a Escola de Oundle” constituía uma reconstituição
biográfica de um educador inglês e da sua obra em forma de Escola, o “Diário de
Alcestes” tem uma espessura que o torna, por vezes, de difícil compreensão,
apenas temperada e compensada pela elegância da prosa que lhe dá um tom
extremamente cativante como vocês poderão comprovar.
O livro “Diário de Alcestes”,
um pequeno livro em número de páginas, da imensidão bibliográfica produzida por
Agostinho, é um livro muito peculiar, mas ao mesmo tempo reconhecível dentro do
seu estilo “vadio”. Impressiona desde logo pela leitura do índice, subordinado
a temas centrais da vivência mundana ou mais propriamente das virtudes humanas
como por exemplo, “sacrifício”, “lealdade”, “justiça” ou “sobre a morte”. É um
livro de um filósofo que muito conhece e refletiu sobre as qualidades e
defeitos do homem, que aprofundou tanto aquilo que na sociedade foi possível
construir ou implicou “desistir”.
O discurso é de uma elegância
que não se procura, até porque chega a conclusões inesperadas e pouco
abonatórias de quem gostaria de elogiar. Utiliza, no entanto, muitas vezes,
formas retóricas que tornam o texto de alguma forma redundante. O seu modo de
análise é de uma iconoclastia modesta, mas direta.
Neste livro, Agostinho
mostra-se num esplendor de um pensador místico que possui, paradoxal e
simultaneamente, a capacidade do raciocínio lógico. “Diário…”, diria eu, não é
um livro fácil de ler. Por exemplo, as referências mitológicas são alguns
escolhos que é preciso superar, mas é muito sugestivo e provocador para todos
aqueles que gostem de retirar das palavras a sua significação mais oculta.
Por tudo isto, recomendo a
leitura deste livro pequeno que não é um pequeno livro.
Henrique Santos