quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Rubrica: Bibliografia pedagógica na biblioteca escolar

 

Recomendação de leitura n.º 7

“Diário de Alcestes”

Agostinho da Silva



“Toda a salvação tem uma cruz; e quanto mais pesada for a cruz,

tanto mais valiosa será a salvação.”

In “Diário…”

 

Hoje voltamos a trazer-vos a figura de Agostinho da Silva, com um livro de certa forma bastante diferente dos recomendados em semanas anteriores.

Enquanto que “Sete cartas a um jovem filósofo” pretendia apresentar uma clareza meridiana, embora não simplista, e “Sanderson e a Escola de Oundle” constituía uma reconstituição biográfica de um educador inglês e da sua obra em forma de Escola, o “Diário de Alcestes” tem uma espessura que o torna, por vezes, de difícil compreensão, apenas temperada e compensada pela elegância da prosa que lhe dá um tom extremamente cativante como vocês poderão comprovar.

O livro “Diário de Alcestes”, um pequeno livro em número de páginas, da imensidão bibliográfica produzida por Agostinho, é um livro muito peculiar, mas ao mesmo tempo reconhecível dentro do seu estilo “vadio”. Impressiona desde logo pela leitura do índice, subordinado a temas centrais da vivência mundana ou mais propriamente das virtudes humanas como por exemplo, “sacrifício”, “lealdade”, “justiça” ou “sobre a morte”. É um livro de um filósofo que muito conhece e refletiu sobre as qualidades e defeitos do homem, que aprofundou tanto aquilo que na sociedade foi possível construir ou implicou “desistir”.

O discurso é de uma elegância que não se procura, até porque chega a conclusões inesperadas e pouco abonatórias de quem gostaria de elogiar. Utiliza, no entanto, muitas vezes, formas retóricas que tornam o texto de alguma forma redundante. O seu modo de análise é de uma iconoclastia modesta, mas direta.

Neste livro, Agostinho mostra-se num esplendor de um pensador místico que possui, paradoxal e simultaneamente, a capacidade do raciocínio lógico. “Diário…”, diria eu, não é um livro fácil de ler. Por exemplo, as referências mitológicas são alguns escolhos que é preciso superar, mas é muito sugestivo e provocador para todos aqueles que gostem de retirar das palavras a sua significação mais oculta.

Por tudo isto, recomendo a leitura deste livro pequeno que não é um pequeno livro.

Henrique Santos