Recomendação nº 3
“O tema fundamental deste livro é o crescimento –
crescimento da mente e da personalidade.”
Arnold Gesell, in “O Jovem dos 10 aos 16 anos”
O livro “O
Jovem dos 10 aos 16 anos” faz parte duma trilogia escrita pelo grande psicólogo
norte-americano Arnold Gesell. Além deste volume que existe na nossa
biblioteca, o conjunto é completado com “A Criança dos 0 aos 5 anos” e “A
Criança dos 5 aos 10 anos”.
Gesell
elaborou, juntamente com a sua equipa, uma obra monumental no âmbito da
psicologia genética. De uma meticulosidade a toda a prova, utilizando a
observação através de imagens filmadas e objeto posterior de análises
aprofundadas, Gesell e a sua equipa de trabalho conseguiram escalpelizar – sem
esterilizar - os padrões comportamentais e evolutivos das crianças e jovens.
Para cada idade, descreveu as suas características de maturidade, que vão do
sistema de ação total e cuidados pessoais e rotinas ao senso moral e perspetiva
filosófica. Numa outra perspetiva, soube apresentar os gradientes de cada um
dos aspetos objeto de análise. É importante afirmar que Gesell sempre soube
enquadrar as idades e aspetos do comportamento numa visão de conjunto que lhe conferiu
um potencial interpretativo e educativo a que outros psicólogos de menor
calibre intelectual nunca chegaram.
Comparativamente
com a psicologia da sua época e daquela que se preocupava com as crianças e
jovens na sua evolução psicológica, Gesell esteve ao nível do francês Henri
Wallon, do suiço Jean Piaget e do austríaco Sigmund Freud, psicólogos que
elaboraram teorias sobre os estádios/etapas e os mecanismos da evolução
psicológica da infância e adolescência. No entanto, Gesell assemelhou-se bem
mais a Wallon do que aos outros dois, provavelmente pela sua preocupação com a
criança/jovem como um todo, como uma pessoa, e não só como um intelecto
(Piaget) ou uma afetividade (Freud).
Ler Gesell
hoje, pode mostrar crianças algo diferentes daquelas que conhecemos, não fossem
as características psicológicas mais distantes do nascimento subsidiárias das
características societárias que, como nós sabemos, têm dado passos
significativos. Atrevo-me a afirmar que certas características de crianças de
tenra idade dos dias atuais, que manejam por vezes durante horas pequenos
écrans, são bem diferentes das crianças da primeira metade do século XX que
Gesell observou. O mesmo se dirá dos jovens relativamente a outras
características psicológicas derivadas de marcas sociais bem diferenciadas. De
qualquer forma a perspetiva não deixará de ser a mesma: é importante o
conhecimento das características psicológicas das crianças e jovens para poder
melhor atuar na sua educação. E é nesse sentido que ler Gesell continua a ser
estimulante para um educador.
Henrique Santos
2023-12-04