segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Rubrica: Bibliografia pedagógica na biblioteca escolar

 Recomendação nº 3

“O tema fundamental deste livro é o crescimento – crescimento da mente e da personalidade.”

Arnold Gesell, in “O Jovem dos 10 aos 16 anos”

O livro “O Jovem dos 10 aos 16 anos” faz parte duma trilogia escrita pelo grande psicólogo norte-americano Arnold Gesell. Além deste volume que existe na nossa biblioteca, o conjunto é completado com “A Criança dos 0 aos 5 anos” e “A Criança dos 5 aos 10 anos”.

Gesell elaborou, juntamente com a sua equipa, uma obra monumental no âmbito da psicologia genética. De uma meticulosidade a toda a prova, utilizando a observação através de imagens filmadas e objeto posterior de análises aprofundadas, Gesell e a sua equipa de trabalho conseguiram escalpelizar – sem esterilizar - os padrões comportamentais e evolutivos das crianças e jovens. Para cada idade, descreveu as suas características de maturidade, que vão do sistema de ação total e cuidados pessoais e rotinas ao senso moral e perspetiva filosófica. Numa outra perspetiva, soube apresentar os gradientes de cada um dos aspetos objeto de análise. É importante afirmar que Gesell sempre soube enquadrar as idades e aspetos do comportamento numa visão de conjunto que lhe conferiu um potencial interpretativo e educativo a que outros psicólogos de menor calibre intelectual nunca chegaram.

Comparativamente com a psicologia da sua época e daquela que se preocupava com as crianças e jovens na sua evolução psicológica, Gesell esteve ao nível do francês Henri Wallon, do suiço Jean Piaget e do austríaco Sigmund Freud, psicólogos que elaboraram teorias sobre os estádios/etapas e os mecanismos da evolução psicológica da infância e adolescência. No entanto, Gesell assemelhou-se bem mais a Wallon do que aos outros dois, provavelmente pela sua preocupação com a criança/jovem como um todo, como uma pessoa, e não só como um intelecto (Piaget) ou uma afetividade (Freud).

Ler Gesell hoje, pode mostrar crianças algo diferentes daquelas que conhecemos, não fossem as características psicológicas mais distantes do nascimento subsidiárias das características societárias que, como nós sabemos, têm dado passos significativos. Atrevo-me a afirmar que certas características de crianças de tenra idade dos dias atuais, que manejam por vezes durante horas pequenos écrans, são bem diferentes das crianças da primeira metade do século XX que Gesell observou. O mesmo se dirá dos jovens relativamente a outras características psicológicas derivadas de marcas sociais bem diferenciadas. De qualquer forma a perspetiva não deixará de ser a mesma: é importante o conhecimento das características psicológicas das crianças e jovens para poder melhor atuar na sua educação. E é nesse sentido que ler Gesell continua a ser estimulante para um educador.

Henrique Santos

2023-12-04