quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Rubrica: Bibliografia pedagógica na biblioteca escolar

 

Recomendação número 2

"Apoio EDUCATIVO acaba Reprovações?"

“Uma coisa vai mudar – não vão mais "chumbar"

por ano 20% a 40% de alunos”. (1993)


Com este título algo provocativo, “Apoio EDUCATIVO acaba Reprovações?”, os autores deste livro colocam as questões do sucesso escolar num patamar diferente do que era habitual até esse momento (1993). No dobrar da década de 90 do século passado tinha surgido o novo modelo legal de avaliação dos alunos, culminando a reforma do sistema educativo começada alguns anos antes. Sublinhe-se que o “parto” não foi fácil. Só esse novo modelo de avaliação precisou de dois ou três diplomas em sucessivo reajuste.

A questão do sucesso/insucesso escolar é tradicionalmente, e ainda hoje, encarada de forma dicotómica e não dialética. Uns, dizem, “o aluno sabe ou não sabe. Se não sabe deve ser reprovado com a intenção de aprender aquilo que não adquiriu, tendo para isso a extensão de um novo ano letivo”. Já outros, fundamentados no facto de muitos dos alunos reprovados não terem beneficiado com isso, apontam num sentido de valer mais a pena fazer o aluno transitar, mantendo-o no seio do grupo de trabalho a que pertenciam e esperando que as atitudes e aquisições do aluno em causa, entretanto se modifiquem no sentido positivo.

Hoje todos sabemos o que resultou de tudo o que foi acontecendo no sistema relativamente ao “sucesso”. De facto, os 20 a 40% de insucesso escolar, vulgo reprovações, desapareceram. Mais por artes do inefável que por virtudes concretas. Quando vemos nas pautas alunos a transitar com 4, 5 e mais níveis inferiores a três, todos nós, professores, alunos, encarregados de educação, consideramos que algo vai mal no reino da Educação em Portugal. Mas como todos sabemos que até os placebos possuem artes curativas, lá nos vamos contentando e fechando os olhos. Convenhamos que a alternativa anterior também não era, realmente, grande coisa.

Neste livro que se insere na segunda corrente de pensamento dicotómico, existe uma nuance. Consiste ela em considerar que usar “Apoios Educativos” e outras formas de trabalho tecnicamente bem formulados e aplicados aos alunos pode compensar a falta das aprendizagens não realizadas, assim permitindo o sucesso desejado.

Será que é válido este raciocínio? Não passará ele de uma formalidade pedagógica despida de conteúdo real? Será que os “Apoios pedagógicos” são, de facto, sinónimo de aprendizagens reais? Pela minha parte tenho algumas dúvidas e penso que o início da solução estará, antes e primeiro, na procura de opções político-pedagógicas para as aprendizagens que pretendemos fazer adquirir pelos alunos. Definida a finalidade, de seguida será fulcral desenhar uma filosofia pedagógica renovada escorada num investimento acrescido no Ensino Público reforçando desde logo, e substancialmente, os seus meios. E isso nunca aconteceu em Portugal.

E tu, meu caro ou minha cara leitora, o que pensas? Convido-te a ler este livro que faz parte do espólio da nossa biblioteca. Ler livros onde constam ideias diferentes das nossas torna-se muitas vezes tão ou mais enriquecedor do que aquelas leituras que confirmam as nossas certezas. Este livro coloca-se e orgulha-se de uma perspetiva técnica (eu diria mesmo tecnocrática). A esse nível apresenta algumas sugestões interessantes. Sendo este tipo de perspetivas geralmente as que se assumem como instrumentos do poder dominante - neste caso a implementação da reforma Roberto Carneiro - todos aqueles que assumem uma postura crítica são colocados perante um largo conjunto de temas para debater. Penso que só por isso vale a pena ler este livro.

Henrique Santos