"Apoio EDUCATIVO acaba Reprovações?"
“Uma coisa vai mudar – não vão mais "chumbar"
por ano 20% a 40% de alunos”. (1993)
Com este título algo provocativo, “Apoio EDUCATIVO acaba Reprovações?”, os autores deste livro colocam as
questões do sucesso escolar num patamar diferente do que era habitual até esse
momento (1993). No dobrar da década de 90 do século passado tinha surgido o
novo modelo legal de avaliação dos alunos, culminando a reforma do sistema
educativo começada alguns anos antes. Sublinhe-se que o “parto” não foi fácil.
Só esse novo modelo de avaliação precisou de dois ou três diplomas em sucessivo
reajuste.
A questão do sucesso/insucesso
escolar é tradicionalmente, e ainda hoje, encarada de forma dicotómica e não
dialética. Uns, dizem, “o aluno sabe ou não sabe. Se não sabe deve ser
reprovado com a intenção de aprender aquilo que não adquiriu, tendo para isso a
extensão de um novo ano letivo”. Já outros, fundamentados no facto de muitos
dos alunos reprovados não terem beneficiado com isso, apontam num sentido de
valer mais a pena fazer o aluno transitar, mantendo-o no seio do grupo de
trabalho a que pertenciam e esperando que as atitudes e aquisições do aluno em
causa, entretanto se modifiquem no sentido positivo.
Hoje todos sabemos o que resultou
de tudo o que foi acontecendo no sistema relativamente ao “sucesso”. De facto,
os 20 a 40% de insucesso escolar, vulgo reprovações, desapareceram. Mais por
artes do inefável que por virtudes concretas. Quando vemos nas pautas alunos a
transitar com 4, 5 e mais níveis inferiores a três, todos nós, professores,
alunos, encarregados de educação, consideramos que algo vai mal no reino da
Educação em Portugal. Mas como todos sabemos que até os placebos possuem artes
curativas, lá nos vamos contentando e fechando os olhos. Convenhamos que a
alternativa anterior também não era, realmente, grande coisa.
Neste livro que se insere na
segunda corrente de pensamento dicotómico, existe uma nuance. Consiste ela em
considerar que usar “Apoios Educativos” e outras formas de trabalho
tecnicamente bem formulados e aplicados aos alunos pode compensar a falta das aprendizagens
não realizadas, assim permitindo o sucesso desejado.
Será que é válido este
raciocínio? Não passará ele de uma formalidade pedagógica despida de conteúdo
real? Será que os “Apoios pedagógicos” são, de facto, sinónimo de aprendizagens
reais? Pela minha parte tenho algumas dúvidas e penso que o início da solução
estará, antes e primeiro, na procura de opções político-pedagógicas para as
aprendizagens que pretendemos fazer adquirir pelos alunos. Definida a
finalidade, de seguida será fulcral desenhar uma filosofia pedagógica renovada
escorada num investimento acrescido no Ensino Público reforçando desde logo, e
substancialmente, os seus meios. E isso nunca aconteceu em Portugal.
E tu, meu caro ou minha cara leitora, o que pensas? Convido-te a ler este livro que faz parte do espólio da nossa biblioteca. Ler livros onde constam ideias diferentes das nossas torna-se muitas vezes tão ou mais enriquecedor do que aquelas leituras que confirmam as nossas certezas. Este livro coloca-se e orgulha-se de uma perspetiva técnica (eu diria mesmo tecnocrática). A esse nível apresenta algumas sugestões interessantes. Sendo este tipo de perspetivas geralmente as que se assumem como instrumentos do poder dominante - neste caso a implementação da reforma Roberto Carneiro - todos aqueles que assumem uma postura crítica são colocados perante um largo conjunto de temas para debater. Penso que só por isso vale a pena ler este livro.