A violência contra as mulheres é praticada no contexto de uma determinação e distribuição social dos papéis masculino e feminino, atribuindo pesos e importâncias diferenciados a cada um, na medida em que supervaloriza os masculinos em detrimento dos femininos. A inferiorização dos papéis desempenhados pelas mulheres e a subordinação a que elas são submetidas, além de por si só já serem intensamente prejudiciais às mulheres, normalmente vêm acompanhadas de outras espécies de violência: física, psíquica, emocional, sexual, financeira e patrimonial, entre outras.
É assim que, de forma consciente ou não, com mais ou menos intensidade, a discriminação, dominação e submissão das mulheres opera-se nas relações sociais e nas relações interpessoais, levando em muitos casos, exatamente em face do desequilíbrio do poder, aos reiterados episódios de violência. Só uma profunda mudança de mentalidade possibilitará a equidade de direitos, independentemente do género. Fica a esperança de que as gerações futuras assumam uma posição mais justa e igualitária. As gerações do futuro, porque, atualmente, o cenário é extremamente perturbador. Entre a retórica de defesa e a prática de defesa da mulher-vítima há um abismo! A mulher-vítima, além de alvo do agressor, é, não raras vezes, nos meios em que circula, uma pessoa incómoda, que contraria a pseudonormalidade quotidiana, que arranja problemas quando tudo estava (vamos fingir que sim) na santa paz de Deus. Mulher duplamente vítima. Vampirizada de tudo, por muitos. Até pelo silêncio do fazer-de-conta-que-nada-aconteceu. Haja esperança nas gerações futuras!