sexta-feira, 25 de novembro de 2022

"MULHER" NÃO PODE SER SINÓNIMO SITEMÁTICO DE "VÍTIMA"


     Segundo dados estatísticos, a repulsa, desprezo, discriminação, ódio ou a violência contra pessoas do género feminino é maior do que a registada por motivo de orientação sexual, raça, religião, etnia, aparência ou condição social.
      Citando o filósofo e historiador Leandro Karnal, "A tradição da misoginia é, certamente, a mais sólida de todas as tradições preconceituosas do planeta. A misoginia é o preconceito mais antigo, estruturado e danoso de todos. [...] A violência contra a mulher é histórica e cultural e irá aumentar à medida que a consciência feminina trouxer essa questão cada vez mais à tona para debate. Ela deve aumentar exatamente porque as mulheres, com toda razão e muita dignidade, estão enterrando um período histórico de aceitação da violência, estão enterrando séculos de tolerância ao assédio, séculos de ocultação da violência doméstica. Nós temos dias muito promissores na luta pelos direitos das mulheres pela frente. Mas teremos também muita violência."

    A violência contra as mulheres é praticada no contexto de uma determinação e distribuição social dos papéis masculino e feminino, atribuindo pesos e importâncias diferenciados a cada um, na medida em que supervaloriza os masculinos em detrimento dos femininos. A inferiorização dos papéis desempenhados pelas mulheres e a subordinação a que elas são submetidas, além de por si só já serem intensamente prejudiciais às mulheres, normalmente vêm acompanhadas de outras espécies de violência: física, psíquica, emocional, sexual, financeira e patrimonial, entre outras.

   É assim que, de forma consciente ou não, com mais ou menos intensidade, a discriminação, dominação e submissão das mulheres opera-se nas relações sociais e nas relações interpessoais, levando em muitos casos, exatamente em face do desequilíbrio do poder, aos reiterados episódios de violência. Só uma profunda  mudança de mentalidade possibilitará a equidade de direitos, independentemente do género. Fica a esperança de que as gerações futuras assumam uma posição mais justa e igualitária. As gerações do futuro, porque, atualmente, o cenário é extremamente perturbador. Entre a retórica de defesa e a prática de defesa da mulher-vítima há um abismo! A mulher-vítima, além de alvo do agressor, é, não raras vezes, nos meios em que circula, uma pessoa incómoda, que contraria a pseudonormalidade quotidiana, que arranja problemas quando tudo estava (vamos fingir que sim) na santa paz de Deus. Mulher duplamente vítima. Vampirizada de tudo, por muitos. Até pelo silêncio do fazer-de-conta-que-nada-aconteceu. Haja esperança nas gerações futuras!