No âmbito da comemoração do Dia Mundial da Terapia Ocupacional, tivemos o prazer de entrevistar uma Sr.ª Encarregada de Educação (do nosso Agrupamento), Sr.ª D.ª Susana Reis, que se dedica à profissão de terapeuta ocupacional e prontamente se disponibilizou a responder às nossas questões. Fica desde já aqui o nosso sincero e profundo agradecimento.
Entrevistadora (Sílvia Pinto) - Qual o público-alvo com o qual trabalha?
Entrevistada (Susana Reis) - No meu caso específico trabalho com pessoas dos 0 aos 99 anos com Paralisia Cerebral e outras situações neurológicas afins, mas a Terapia Ocupacional serve a população em geral, em qualquer fase da sua vida desde que apresente alguma necessidade específica quer a nível motor, cognitivo e/sensorial, que condicione o seu desempenho nas diversas áreas da sua vida/ocupação.
Entrevistadora - Como definiria a importância da sua profissão?
Entrevistada - A minha profissão é única no sentido em que se baseia em maximizar/potencializar a funcionalidade da pessoa nas tarefas que executa, no seu dia-a-dia, tornando-a o mais autónoma e independente possível.
Qual a importância para cada um de nós de conseguirmos:
comer sem ajuda de outra pessoa?
nos pentear sozinhos?
fazer o percurso para a escola sem ajuda?
Este é o verdadeiro impacto do terapeuta ocupacional na vida de uma pessoa com uma necessidade temporária ou definitiva.
Muitas vezes o terapeuta ocupacional tem de estudar/criar alternativas/instrumentos/ajudas e/ou adaptar os contextos para tornar a pessoa mais autónoma/independente em determinada tarefa.
A pessoa que beneficia/beneficiou do apoio de terapia ocupacional saberá definir com maior precisão qual a importância/impacto da minha profissão na sua vida.
Entrevistadora - Que estratégias/ atividades são mais utilizadas e porquê?
Entrevistada - O planeamento das atividades e a definição das estratégias, é feito com base na avaliação da pessoa, tendo em conta as suas ocupações mais significativas e a fase da vida em que se encontra.
No caso de uma criança, a principal ocupação é o brincar, logo o terapeuta ocupacional deverá recorrer a atividades mais lúdicas, utilizando brinquedos que a criança goste para que seja mais fácil conseguir a sua atenção e interesse e, desta forma, o terapeuta consegue trabalhar as diferentes áreas do desenvolvimento da criança. Com a entrada na escola, o terapeuta ocupacional, reconhecendo que o estar e participar nas atividades é uma das principais ocupações das crianças, adolescentes e jovens adultos, poderá desenvolver as competências de aprendizagem e autonomia. A intervenção inclui, ainda, a consultoria a todos os agentes envolvidos (pais, assistentes operacionais, docentes, entre outros).
No caso de um adulto, em que a principal ocupação poderá ser a sua profissão, o terapeuta ocupacional tem de treinar as competências necessárias para que esta pessoa continue a ser o mais funcional possível, por exemplo, para uma pessoa que trabalha ao computador todo o dia e desenvolveu uma patologia a nível do punho, o terapeuta, para além da reabilitação motora deverá personalizar o local de trabalho da pessoa, estudando o tipo de cadeira mais adequada, a altura e inclinação do computador, assim como o estudo de ratos mais ergonómicos.
No caso de uma pessoa idosa que se reformou e ficou sem uma ocupação significativa, o papel do terapeuta ocupacional deverá ser, principalmente, na prevenção do isolamento social e na perda de competências.
Entrevistadora - Que sugestões de melhoria, para potenciar o exercício da sua profissão, apresentaria aos nossos governantes?
Entrevistada - Essencialmente, e porque os idosos representam uma grande fatia da população portuguesa, eu apresentaria a necessidade de incluir, nos centros de saúde (unidades de cuidados de saúde primários), uma equipa multidisciplinar constituída por terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e terapeutas da fala para que se pudesse dar um acompanhamento mais próximo e personalizado às pessoas mais velhas. Sabemos que muitos idosos vivem sós e sem retaguarda, pelo que o isolamento acaba por condicionar o desempenho da pessoa no seu dia-a-dia, nomeadamente a nível da autonomia nos cuidados pessoais e mobilidade. Para além destas questões há também outras patologias que eventualmente poderão aparecer, tais como fraturas por quedas (que nestas idades são bastante incapacitantes) ou demências.
Outra fatia da população que também beneficiaria seriam os pais/cuidadores e as crianças, em idades muito precoces, porque ao serem avaliadas regularmente, provavelmente seriam feitos diagnósticos precoces e realizadas intervenções com melhores resultados.
Acrescento ainda que o terapeuta ocupacional não faz apenas avaliação e tratamento, mas simultaneamente prevenção do agravamento da situação clínica, adaptando os contextos às necessidades da pessoa, estudando produtos de apoio adequados e capacitando o(s) cuidador(es), porque afinal são estes quem estão todo o dia com a pessoa com necessidades.
Após tão preciosa partilha, reiteramos o nosso agradecimento e congratulamo-nos por mais este momento tão fértil e que nos deve motivar a todos para uma profunda reflexão...