A saúde mental, infelizmente, parece ser o "parente pobre" da vasta área da Saúde, pois não tem a visibilidade de uma deformidade óssea ou de uma ferida que sangra... e, no, entanto, há uma ferida que sangra!
As vítimas de problemas que afetam a sua saúde mental são, não raro, alvo, não da devida ajuda, mas de acusações e críticas, tais como preguiça, antissociabilidade, antipatia, irascibilidade, inconstância de humor, comportamentos desajustados e repreensíveis... ou seja, os sintomas de algumas doenças mentais tornam-se motivo, não de cuidado e preocupação, mas de crítica e opressão. "És maluco!"; "Estás doido!", "És completamente louca!" ... são exemplos de expressões ofensivas que normalmente antecedem outras ofensas, quando, na verdade, são proferidas sempre por quem não tem qualificações para avaliar do estado mental da cada um (nem do seu) e cuja intenção é meramente insultuosa, com a agravante de piorar o estado mental de quem pode efetivamente padecer de um desequilíbrio e precisa de terapia e de ajuda, não de ofensas e insultos. "És completamente diabético!", "Nem fazes ideia do quão paraplégico estás!" são injúrias que todos considerariam estúpidas e cruéis, mas quando o alvo é a doença mental, parece que o paciente é o culpado pela sua doença, carregando o duplo fardo de estar doente e de ser criticado por isso.
A saúde mental é o "parente pobre" da vasta área da Saúde, porque, mesmo após um diagnóstico por alguém devidamente avalizado, há o mito de que, se a pessoa quiser, pode sempre fazer um esforço, não faz mais por "má vontade" (e a má vontade, seja lá o que isso for - porque pode ser o que quer que seja para cada um - é das atitudes mais indesculpáveis); há ainda o mito de que o doente mental só dá desculpas esfarrapadas para a sua incompetência. "Vá lá, é uma coisa rápida, põe a depressãozita de lado e preenche lá o formulário. Está quase a acabar o prazo!" E o paciente a afundar-se mais, também no abismo da pressão e da incompreensão... "Eu sei que estás doente, mas isso não justifica as atitudes que tens tido!" Claro que justifica. A PESSOA ESTÁ DOENTE! Neste contexto, resta perguntar quem é mais insano: o doente mental ou o crítico/agressor do doente mental... que não, não é doente também, é simplesmente ignorante e cruel.
Sílvia Pinto