terça-feira, 22 de setembro de 2020

Acorda, Rui!!!


      - Pssst!!!

      - Humm?! - balbuciou o Rui, estremunhado.

      - Acorda, Rui! Temos de falar! Estivemos reunidos e a tua falta de cuidado preocupa-nos!...

     Rui acorda e olha em seu redor: viu uma máscara cirúrgica, uma embalagem de gel desinfetante, uma barra da sabão, luvas descartáveis, uma viseira, proteções plásticas para o calçado... tudo a pairar no ar e tudo com um par de olhinhos particularmente zangados!

     Ainda um pouco ensonado, Rui espreguiçou-se e tentou arregalar os olhos... 

     - O que vem a ser isto?! Um truque de ilusionismo?! O meu quarto está assombrado?!

     - A verdade é que (tal como os brinquedos, mas disso há muito que as criança desconfiam) os objetos também ganham vida quando ninguém está a olhar. Só que nós também observamos e reparamos que, desde que viemos para esta casa, tu não no dás qualquer importância! - disse a máscara a abrir e fechar as dobrinhas como se uma mão invisível a manobrasse.

      - E devia dar? Eu não estou doente!

      - É precisamente por isso que devias valorizar-nos e, sobretudo, fazer uso de todos nós! - interrompeu o sabão, de um azul e branco ondulante, a fazer lembrar um oceano compactado numa barra. A torneira, por estar presa às canalizações, não se consegue deslocar, mas manda cumprimentos e...muitas saudades! É tão raro lavares as mãos!

      Fingindo não ouvir (e enquanto se lembrava de ter estado a lamber o dedos depois de comer um chocolate de leite, no dia anterior), o Rui perguntou à máscara:

      - Tu serves para quê?

      - Sirvo para proteger as vias respiratórias. - explicou a máscara, em tom sereno.

      - Do tal vírus, o Covid-19, essa cena que dá tanto na televisão?

      - Desse e de outros vírus e agentes patogénicos.

      - Agentes quê??

      - Pa to gé ni cos - pronunciou, devagar, a máscara - e olha que o vírus não é uma "cena que dá na televisão". É um vírus que deixa as pessoas muito doentes e até provoca a morte! 

       Neste instante, o gel desinfetante ficou deveras irritado:

       -  E eu ainda estou por abrir! Antes que perguntes, sirvo para desinfetar as mãos e os objetos.

       - Não ia perguntar - disse o Rui, com desdém - eu já sabia! Só que olha bem para as minhas mãos - sugeriu, enquanto estendia as mãos diante de si, como que a simbolizar o número dez - não vejo vírus nenhum!

       - Really? - pronunciaram, com desdém, as luvas descartáveis. - Os vírus, os germes, as bactérias,...não são visíveis a olho nu! Só dormes aqui ou também dormes nas aulas de Ciências?

       - Pois...quanto a isso de dormir, é melhor não falar...mas já percebi: as mãos podem estar sujas e parecerem limpas. Vou ter muito mais cuidado. Vamos ser todos amigos íntimos.

        - Sim, de nós não precisas de manter o isolamento, mas das outras pessoas, sim Virá ainda o tempo dos abraços, que vão saber tão bem! Para já, se gostas das pessoas, se te preocupas com elas e contigo...mantém a distância! - sugeriu a viseira.

        Se o Rui estaria ainda a sonhar ou se algo aconteceu nesta magia que é a criatividade das histórias,  deixamos isso ao prezado leitor, mas que a partir daquela noite o Rui começou a cumprir escrupulosamente todas as regras de prevenção, ai lá isso cumpriu. 

        E tu? 

Turma: 6ºB