- Pssst!!!
- Humm?! - balbuciou o Rui, estremunhado.
- Acorda, Rui! Temos de falar! Estivemos reunidos e a tua falta de cuidado preocupa-nos!...
Rui acorda e olha em seu redor: viu uma máscara cirúrgica, uma embalagem de gel desinfetante, uma barra da sabão, luvas descartáveis, uma viseira, proteções plásticas para o calçado... tudo a pairar no ar e tudo com um par de olhinhos particularmente zangados!
Ainda um pouco ensonado, Rui espreguiçou-se e tentou arregalar os olhos...
- O que vem a ser isto?! Um truque de ilusionismo?! O meu quarto está assombrado?!
- A verdade é que (tal como os brinquedos, mas disso há muito que as criança desconfiam) os objetos também ganham vida quando ninguém está a olhar. Só que nós também observamos e reparamos que, desde que viemos para esta casa, tu não no dás qualquer importância! - disse a máscara a abrir e fechar as dobrinhas como se uma mão invisível a manobrasse.
- E devia dar? Eu não estou doente!
- É precisamente por isso que devias valorizar-nos e, sobretudo, fazer uso de todos nós! - interrompeu o sabão, de um azul e branco ondulante, a fazer lembrar um oceano compactado numa barra. A torneira, por estar presa às canalizações, não se consegue deslocar, mas manda cumprimentos e...muitas saudades! É tão raro lavares as mãos!
Fingindo não ouvir (e enquanto se lembrava de ter estado a lamber o dedos depois de comer um chocolate de leite, no dia anterior), o Rui perguntou à máscara:
- Tu serves para quê?
- Sirvo para proteger as vias respiratórias. - explicou a máscara, em tom sereno.
- Do tal vírus, o Covid-19, essa cena que dá tanto na televisão?
- Desse e de outros vírus e agentes patogénicos.
- Agentes quê??
- Pa to gé ni cos - pronunciou, devagar, a máscara - e olha que o vírus não é uma "cena que dá na televisão". É um vírus que deixa as pessoas muito doentes e até provoca a morte!
Neste instante, o gel desinfetante ficou deveras irritado:
- E eu ainda estou por abrir! Antes que perguntes, sirvo para desinfetar as mãos e os objetos.
- Não ia perguntar - disse o Rui, com desdém - eu já sabia! Só que olha bem para as minhas mãos - sugeriu, enquanto estendia as mãos diante de si, como que a simbolizar o número dez - não vejo vírus nenhum!
- Really? - pronunciaram, com desdém, as luvas descartáveis. - Os vírus, os germes, as bactérias,...não são visíveis a olho nu! Só dormes aqui ou também dormes nas aulas de Ciências?
- Pois...quanto a isso de dormir, é melhor não falar...mas já percebi: as mãos podem estar sujas e parecerem limpas. Vou ter muito mais cuidado. Vamos ser todos amigos íntimos.
- Sim, de nós não precisas de manter o isolamento, mas das outras pessoas, sim Virá ainda o tempo dos abraços, que vão saber tão bem! Para já, se gostas das pessoas, se te preocupas com elas e contigo...mantém a distância! - sugeriu a viseira.
Se o Rui estaria ainda a sonhar ou se algo aconteceu nesta magia que é a criatividade das histórias, deixamos isso ao prezado leitor, mas que a partir daquela noite o Rui começou a cumprir escrupulosamente todas as regras de prevenção, ai lá isso cumpriu.
E tu?
Turma: 6ºB