quinta-feira, 1 de junho de 2023

DIA DA CRIANÇA - AS CRIANÇAS SÃO O PRESENTE!


     Quando eu era criança, o meu pai fez-me um carrinho de bois para eu brincar. Tosco, rude, perfeito aos meus olhos. No início da época de 70, ainda não se havia dado a entronização dos brinquedos de plástico. E tinha tanto valor para mim um brinquedo feito à mão pelo meu pai! O tempo, o cuidado, a antecipação da minha alegria! E eu pegava no brinquedo e, com cuidado, segurando bem o boizinho (e até com alguma pena do pobre animal) lá o fazia seguir por carreiros, caminhos da mata em terra batida, percursos estreitos e difíceis, pois é por esses caminhos que se chega ao Alto.
      Noutros caminhos, os do tempo, esse carrinho perdeu-se... Ficou eternizado na minha memória, como quem o fez.
        Há pouco tempo, num evento de celebração da multiculturalidade, para meu grande espanto, na bancada de vendas solidárias da Ucrânia, vi o carrinho! Não era o que o meu pai me tinha feito, mas era tão idêntico, tão semelhante, que viajei no tempo! O mesmo cuidado nos pormenores, a mesma estrutura, os sacos de sarapilheira com o milho graúdo e os feijões pretos, como os que usávamos para jogar ao Loto. 
          Numa bancada de vendas solidárias, a minha infância presentificou-se! Aproximei-me da lindíssima senhora de olhos de azul profundo que, num português corretíssimo, me perguntou se eu queria comprar o carrinho, fixos que estavam os meus olhos nele. "Foi feito por um soldado", acrescentou a senhora com cabelos de trigo sedoso. 
          O meu também. O meu carrinho também tinha sido feito por um soldado, agora aplica-se-lhe o termo "ex-combatente", se é que a semântica importa num contexto tão hediondo como o de qualquer guerra. O soldado que fez o meu carrinho está agora em Paz. Espero que o soldado que fez o carrinho alcance, muito em breve, uma outra paz. Será ele pouco mais velho que uma criança? Não o conheço, provavelmente nunca o conhecerei, mas tenho comigo algo que o irá perpetuar, aconteça o que acontecer. 
          Não sei sob que circunstâncias esse carrinho foi feito. Porém, ao vê-lo, renda de bilros em forma de brinquedo, concebido para que uma criança possa fazer o que deve e sabe fazer melhor - BRINCAR! -  fiquei plenamente ciente de que a infância não tem espartilhos de tempo nem de espaço. Todas as crianças são crianças, onde quer que estejam...e quando. Deixemos de ver as crianças como os adultos de amanhã e vejamo-las pelo que são agora: CRIANÇAS! O primeiro, o principal, o prioritário direito da criança é o direito a ser criança!